09/04/2013

Beira-Mar.


      Os grafites gritam por socorro. Gritam pela agonia de estarem aprisionados, em sua esplandeceste  beleza, sendo obrigados a viverem com o cinza monótono e urbano. Eu e ela havíamos desistido de morar na cidade, na zona em que o céu não era azul, e sim cinza, por conta da fuligem dos combustíveis dos carros, e fomos morar a beira-mar.

   
        Era um apartamento pequeno, ao lado das rochas que quebravam as ondas. O som era agradável pro todo o dia, por incrível que pareça, dava para conseguir dormir mesmo com o enfurecer do mar a noite. O lugar tinha dois quartos, um banheiro e a sala, que era integrada a uma cozinha por uma pequena bancada.
    
         Um lugar realmente afável e sossegado. Ao longe se escutavam os moleques ,que vinham da vila e da cidade, brincando na prainha. Era domingo de sol. O mar, calmo e sereno, não ligava muito para a presença dos banhistas. E tinha todo tipo de banhista, desde as meninas magricelas que vinham em grupos das vilas até o calvo obeso classe-média, que passa o tempo todo sentado em uma cadeirinha bebendo cerveja e comendo camarão, mas que ao fim do dia vai ficar igual a um. Nós fomos até lá naquela manhã. Subimos em uma da dunas, que mais parecia um morro, e nos aconchegamos. 

       A vista era fascinante.
As pessoas lá em baixo, minúsculas, como formigas, próximas de uma gigantesca poça de agua salgada que chamamos de mar. 
 Como típicos loucos que somo, fomos de jeans e jaqueta. Mas não éramos os únicos, via-se mais três ou quatro pessoas bem agasalhadas em outras dunas ou até mesmo na praia, mas era esperado, praias sulistas tendem a ser frias durante todo o dia.
  
     Ela colocou seu óculos escuros Wayfarer e ficou admirando o horizonte, e eu a ela. Seus cabelos castanhos e selvagens, com as mechas descoloridas e sua franja enorme cobrindo toda a sua testa, se agitam de leve com o menor indicio de brisa. A pele macia e morena, os dedos finos e delicados, os lábios finos e doces.
      Me vê admirá-la abobado e me beija suave. Sinto o gosto doce da sua boca e amargo do café de hoje cedo. Tira os óculos e olha no profundo dos meus olhos com a sua típica intensidade quase selvagem. 
    
      Seus olhos, agora verdes- escuro, me esfaqueavam de paixão. Olhos que por vezes é castanho claro, por vezes verde escuro. 
 Como agora.
 Como ontem a noite na rua.
 Como no dia que nos conhecemos.
Estou completamente cego.
Cego de paixão.
E ela me mantém. Me mantém sonhando para viver.
   
      Leva o dedo até a ponta dos cabelos e o enrola. Faz isso com bastante frequência, já feito tantas vezes que nem percebe quando faz. Talvez seja genético, ou algo que veio de vivencia.
Abre a boca e fala delicadamente, enquanto uma brisa bagunça seus cabelos:
 - O sol – E aponta para ele. Aceno confirmando com a cabeça, e sorrio.
 Ela faz uma contagem e, ao chegar do “Já!”, olhamos para o magnifico e estupendo globo de luz no céu azul em dégradé com o verde do mar. É uma brincadeirazinha que fazemos. Ver quem suporta mais tempo olhando para o sol sem pedir arrego.
  É besta e idiota, eu sei.
 E ela sempre ganha.
 Poderia ficar olhando para o sol a pino no céu que mesmo assim ficaria cega.
 Por ela, olharia para o sol por todo uma tarde quente.
 E acabaria cego.
 Da visão.
 E de paixão.