17/06/2014

quando as esperanças acabarem, encha o copo novamente.


no meio de um ônibus
uma senhora
chora
suas feições de noite, suas rugas
contam
dedilham
os anos que passaram.
mal consigo ver seus olhos
só sua agonia gritante
em movimento
e tudo que eu quero fazer
é algo
só algo
simplesmente algo
algo que pesa
como um rebanho de pessoas
que se amontoa
no metro
algo que pesa
como um monumento de bronze
já gaga
malacabado
algo que pesa
como o próprio choro
e as ruas passam num frenesi
estatuas e carros e placas e supermercados
e nesse inferno calado
em que o choro é silencioso
como o corpo noturno
uma criança ri
sem saber
que saberá
que o mundo é veloz
feito viver.